Como dito na última postagem da série, hoje eu lhes mostrarei 3 capas no mínimo curiosas, são elas:
XTC – GO 2 (1978)
Autor: Storm Thorgerson
Essa
capa representa o punk como nenhuma outra (sim, até mais que Never mind the
bollocks e London Calling). É a prova registrada de que uma idéia vale mais do
que qualquer virtuosismo. A ironia disso tudo é que a banda havia chamado para
produzir a capa de seu novo álbum ninguém menos que Storm Thorgenson. Sim, o
consagrado criador das capas do Pink Floyd (que é o tipo de
música totalmente oposta ao punk). Porém, em meio à reunião para decidir como
seria a capa, eles decidiram fazer algo que fosse totalmente o contrário de uma
capa comercial, e é ai que todo o talento de Thorgenson em artes visuais é
deixado de lado e entra em cena a mais pura ideologia punk. Em um papel em
branco, foi escrito o que eles entendiam por uma capa comercial, e dali para a
capa, com uma formatação intencionalmente tosca. O resultado é essa sacada
genial, que além de funcionar como uma “não-capa”, mostra uma crítica explicita
à industria musical.
Tradução:
"Esta
é uma Capa de Disco. Esse texto é o DESIGN por cima da capa. O DESIGN é para
ajudar na VENDA do disco. Nós esperamos atrair sua atenção para incentivá-lo a
pegá-lo. Quando você pegar o disco, provavelmente será persuadido a escutar as
músicas - no caso, banda XTC do disco Go 2. Então nós queremos que você o
COMPRE. A idéia é que sua compra dará mais dinheiro para a gravadora Virgin, o
empresário Ian Reid e também a banda. É claro que será um grande PRAZER. Um bom
DESIGN de capa é o que mais atrai compradores. Esse texto está tentando atrai-lo
mais do que uma boa foto. E foi feito pra você LER. Isso se chama enganar a
VÍTIMA e você é a VÍTIMA. Mas se você tem a cabeça boa, PARE DE LER AGORA!
Porque tudo que queremos é que você continue lendo. Mas isso é uma INTERPRETAÇÃO
DUPLA, porque se você parar, estará fazendo o que falamos para fazer, e se você
continuar lendo, fará o que queríamos o tempo todo. E quanto mais você lê, mais
está caindo no que todos os bons designs comerciais fazem. São TRUQUES e esse
TRUQUE é pior quando falamos que é um TRUQUE que tenta te ENGANAR e se você ler
mais estará se ENGANANDO mais, mas você não saberia mais nada se não lesse até
aqui. Pelo menos estamos dizendo sinceramente ao invés de simplesmente seduzi-lo
com uma arte bonita que não diz nada pra você. Estamos esclarecendo as coisas
porque esse disco é um PRODUTO e os PRODUTOS devem ser consumidos e você é um
consumidor e esse é um PRODUTO bom. Nós poderíamos ter escrito o nome numa
fonte especial, como se estivesse pra fora aparecendo antes mesmo de você ler,
e provavelmente você iria comprá-lo do mesmo jeito. O que estamos sugerindo é
que você é BURRO se não comprar esse disco por causa da sua capa. Isso tudo é
pra mostrar que provavelmente você gostará desse texto - que é o design do
disco - e daqui pro conteúdo do disco. Mas só estamos falando contra
aquelas. Um bom design de capa pode ser considerado o começo para a
compra do disco, mas isso realmente não acontece mais, porque VOCÊ sabe que
isso é apenas o design de uma capa. E isso é uma CAPA DE DISCO."
Blind Faith - Blind Faith (1969)
Autor: Bob Seidemann
Esse
é um daqueles casos em que a capa acaba por ganhar mais notoriedade do que o
próprio disco. A cena da inocente garotinha nua de 11 anos segurando uma
aeronave de caráter fálico e futurista só não causou maior polêmica devido aos
grandes acontecimentos da época (foi nesse mesmo ano que o homem pisou pela
primeira vez na lua, e a revolução sexual encontrava-se em seu ápice). Ainda
assim, os idealizadores do projeto (Eric Clapton e o vocalista do Traffic,
Steve Winwood) enfrentaram problemas para que a gravadora aceitasse a capa. No
entanto, Clapton ameaçou não gravar o disco se a foto não fosse aceita, e como
o selo estava apostando todas suas fichas no grupo, acabaram por ceder, mas
apenas na Europa. A edição norte americana do disco trazia apenas uma inocente
foto da banda na capa.
The Velvet Underground e Nico - The Velvet Underground e Nico (1967)
Autor:
Andy Warhol
Apontado
por muitos (inclusive pelo próprio Lou Reed) como o disco mais importante da
história do rock, o debut do velvet underground traz uma embalagem não menos
digna. Criação do excêntrico gênio da peruca prateada, a capa do álbum tem um
apelo muito mais icônico do que visual. Usando de sua pop art, Andy Warhol
criou um símbolo simples e de fácil assimilação, que caiu como uma luva para
definir o som da banda. Nada mais que uma banana, mas uma banana com muito
significado. As primeiras cópias do disco traziam em seu encarte uma banana
“descascável”, que revelava em seu interior uma insinuante polpa cor carne.
Havia ali um aviso sobre o teor sexual de algumas músicas, mas mais do que
isso, pode-se dizer que a capa também funciona como uma antecipação do que se
sente ao ouvir o disco. Ao descascar a banana, ninguém imaginava ver uma fruta
rosa lá dentro, assim como ninguém nos anos 60 esperava colocar um LP de rock
na agulha e ouvir o som visceral e desconcertante do Velvet.
É isso por enquanto, e até a próxima!.
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