16 de dez. de 2011

Grandes capas, grandes histórias (parte 4)

Como dito na última postagem da série, hoje eu lhes mostrarei 3 capas no mínimo curiosas, são elas:


XTC – GO 2 (1978)


Autor: Storm Thorgerson

Essa capa representa o punk como nenhuma outra (sim, até mais que Never mind the bollocks e London Calling). É a prova registrada de que uma idéia vale mais do que qualquer virtuosismo. A ironia disso tudo é que a banda havia chamado para produzir a capa de seu novo álbum ninguém menos que Storm Thorgenson. Sim, o consagrado criador das capas do Pink Floyd (que é o tipo de música totalmente oposta ao punk). Porém, em meio à reunião para decidir como seria a capa, eles decidiram fazer algo que fosse totalmente o contrário de uma capa comercial, e é ai que todo o talento de Thorgenson em artes visuais é deixado de lado e entra em cena a mais pura ideologia punk. Em um papel em branco, foi escrito o que eles entendiam por uma capa comercial, e dali para a capa, com uma formatação intencionalmente tosca. O resultado é essa sacada genial, que além de funcionar como uma “não-capa”, mostra uma crítica explicita à industria musical.

Tradução:

"Esta é uma Capa de Disco. Esse texto é o DESIGN por cima da capa. O DESIGN é para ajudar na VENDA do disco. Nós esperamos atrair sua atenção para incentivá-lo a pegá-lo. Quando você pegar o disco, provavelmente será persuadido a escutar as músicas - no caso, banda XTC do disco Go 2. Então nós queremos que você o COMPRE. A idéia é que sua compra dará mais dinheiro para a gravadora Virgin, o empresário Ian Reid e também a banda. É claro que será um grande PRAZER. Um bom DESIGN de capa é o que mais atrai compradores. Esse texto está tentando atrai-lo mais do que uma boa foto. E foi feito pra você LER. Isso se chama enganar a VÍTIMA e você é a VÍTIMA. Mas se você tem a cabeça boa, PARE DE LER AGORA! Porque tudo que queremos é que você continue lendo. Mas isso é uma INTERPRETAÇÃO DUPLA, porque se você parar, estará fazendo o que falamos para fazer, e se você continuar lendo, fará o que queríamos o tempo todo. E quanto mais você lê, mais está caindo no que todos os bons designs comerciais fazem. São TRUQUES e esse TRUQUE é pior quando falamos que é um TRUQUE que tenta te ENGANAR e se você ler mais estará se ENGANANDO mais, mas você não saberia mais nada se não lesse até aqui. Pelo menos estamos dizendo sinceramente ao invés de simplesmente seduzi-lo com uma arte bonita que não diz nada pra você. Estamos esclarecendo as coisas porque esse disco é um PRODUTO e os PRODUTOS devem ser consumidos e você é um consumidor e esse é um PRODUTO bom. Nós poderíamos ter escrito o nome numa fonte especial, como se estivesse pra fora aparecendo antes mesmo de você ler, e provavelmente você iria comprá-lo do mesmo jeito. O que estamos sugerindo é que você é BURRO se não comprar esse disco por causa da sua capa. Isso tudo é pra mostrar que provavelmente você gostará desse texto - que é o design do disco - e daqui pro conteúdo do disco. Mas só estamos falando contra aquelas.  Um bom design de capa pode ser considerado o começo para a compra do disco, mas isso realmente não acontece mais, porque VOCÊ sabe que isso é apenas o design de uma capa. E isso é uma CAPA DE DISCO."

Blind Faith - Blind Faith (1969)


Autor: Bob Seidemann

Esse é um daqueles casos em que a capa acaba por ganhar mais notoriedade do que o próprio disco. A cena da inocente garotinha nua de 11 anos segurando uma aeronave de caráter fálico e futurista só não causou maior polêmica devido aos grandes acontecimentos da época (foi nesse mesmo ano que o homem pisou pela primeira vez na lua, e a revolução sexual encontrava-se em seu ápice). Ainda assim, os idealizadores do projeto (Eric Clapton e o vocalista do Traffic, Steve Winwood) enfrentaram problemas para que a gravadora aceitasse a capa. No entanto, Clapton ameaçou não gravar o disco se a foto não fosse aceita, e como o selo estava apostando todas suas fichas no grupo, acabaram por ceder, mas apenas na Europa. A edição norte americana do disco trazia apenas uma inocente foto da banda na capa.

The Velvet Underground e Nico - The Velvet Underground e Nico (1967)


Autor: Andy Warhol

Apontado por muitos (inclusive pelo próprio Lou Reed) como o disco mais importante da história do rock, o debut do velvet underground traz uma embalagem não menos digna. Criação do excêntrico gênio da peruca prateada, a capa do álbum tem um apelo muito mais icônico do que visual. Usando de sua pop art, Andy Warhol criou um símbolo simples e de fácil assimilação, que caiu como uma luva para definir o som da banda. Nada mais que uma banana, mas uma banana com muito significado. As primeiras cópias do disco traziam em seu encarte uma banana “descascável”, que revelava em seu interior uma insinuante polpa cor carne. Havia ali um aviso sobre o teor sexual de algumas músicas, mas mais do que isso, pode-se dizer que a capa também funciona como uma antecipação do que se sente ao ouvir o disco. Ao descascar a banana, ninguém imaginava ver uma fruta rosa lá dentro, assim como ninguém nos anos 60 esperava colocar um LP de rock na agulha e ouvir o som visceral e desconcertante do Velvet.

É isso por enquanto, e até a próxima!.





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