13 de nov. de 2011

Jack White - O último dos "blueseiros"


O ano é 1999, o grunge já havia saído de cena e muitos pregavam novamente a morte do rock n' roll enquanto outros pregavam o fim do mundo. Bom, todos sabemos que não aconteceu nem uma coisa nem outra, mas havia um jovem em Detroit que parecia compartilhar da mesma opinião de nosso mestre Raul Seixas: "O rock acabou mesmo em 59". Esse jovem era John Anthony Gillis, que no mesmo ano de 99 adotaria o pseudônimo de Jack White e lançaria junto com sua "irmã" Meg White o primeiro álbum do White Stripes.

O que ouvimos no debut da banda é uma sonoridade crua e suja, é como se Robert Johnson tivesse conhecido uma guitarra elétrica antes de morrer, o rock de garagem calcado no blues é levado de forma minimalista, apenas guitarra bateria e voz, no entanto, ao final do álbum você até já se esqueceu que se trata de uma dupla, a guitarra de Jack White preenche todos os espaços, sua maneira visceral de tocar e cantar transmite uma energia surpreendente, quem diria que ás vésperas do século XXI ouviríamos exatamente o mesmo tipo de música feita nas fazendas dos EUA nos anos 40 e acharíamos isso novo?

Pois é, pra quem achava que o rock estava morrendo, Jack White provou o contrário e relembrou a todos de onde vem a alma do verdadeiro rock n' roll.



O vídeo acima mostra um trecho do documentário "It Might Get Loud", onde Jack fala de quando escutou Son House pela primeira vez e de como isso mudou sua percepção sobre a música. Como ele mesmo diz no documentário um pouco depois, todo o visual lúdico que cercava o White Stripes não passava de um apelo visual pra desviar a atenção do que a banda realmente era, uma tentativa de soar de uma forma tão genuína e simples quanto a música de Son House, e, ao menos no que se refere a minha opinião, eles conseguiram.


E conseguiram muito mais, o White Stripes lançou 6 álbuns de estúdio, onde Jack White arrumou espaço para diversos experimentalismos mesmo sem perder a sua alma blueseira e a sonoridade vintage característica, a banda ainda lançou o ótimo álbum ao vivo "Under Great White Northern Lights".

Jack pode ser um homem minimalista, mas sonha alto, e talvez seja por isso que em fevereiro desse ano ele anunciou sua saída do White Stripes e o término da banda para se dedicar à outros projetos.

Falando em projetos, voltemos um pouco no tempo, em 2005 Jack White se juntou a Brendan Benson, Jack Lawrence e Patrick Keeler e formou o The Raconteurs. O primeiro álbum da banda (Broken Boy Soldiers, 2006) trazia uma sonoridade bem setentista, com muitos riffs de guitarra, intercalados com arranjos de violão e teclados que lembravam muito o rock psicodélico da época, como é o caso de Intimate Secretary. Pra quem achava que o saudosismo de Jack só funcionava no White Stripes, o Raconteurs prova o contrário já nesse           primeiro disco, com músicas pesadas e melodiosas como Steady As She Goes e Broken Boy Soldier, ou ainda nas baladas Together e na Zeppeliana Blue Veins.

Em 2008 a banda volta com o sensacional "Consoler of the Lonely", mantendo a mesma linha do álbum anterior, mas dessa vez com um entrosamento muito maior, as guitarras de Brendan e Jack parecem dançar juntas, Jack Lawrence está impecável no baixo, já Patrick mantém a sua bateria setentista firme e forte.


Em 2009 Jack White fundou a gravadora "Third Man Records", onde resgata artistas antigos ou mesmo novos artistas que buscam uma sonoridade mais antiga. Um dos últimos frutos do selo Third Man foi o ótimo álbum da rainha do rockabilly Wanda Jackson, mas esse vale uma resenha especifica.

No entanto, o grande acontecimento do lançamento da gravadora foi mesmo a estréia do novo projeto de Jack White, o super grupo Dead Weather. Jack teria perdido a voz em um show do Raconteurs em Memphis, foi então que a banda chamou Alisson Mosshart para cantar algumas das músicas. Após o show, Jack pediu se ela não gostaria de gravar uma música com ele e Lawrence. Bom, eles encontraram Dear Fertita do Queens of the Stone Age no estúdio, que acabou se juntando a banda e gravando mais de uma música com eles aquela noite.

Tudo isso resultou no álbum Horehoud, com Jack White mostrando porque a bateria foi seu primeiro instrumento e Alissa Mosshart transbordando atitude em performances incendiárias. Há tempos não via uma banda nova com tanta energia em cima do palco, é rock n' roll do começo ao fim com uma sonoridade que a todo momento flerta com o experimentalismo mas sempre mantendo sua relação estável com o saudosismo, algo que Jack White faz como ninguém. A banda ainda lançou em 2010 "Sea of Cowards", álbum que exige um pouco mais de dedicação do que o anterior para ser digerido, mas é tão bom quanto. 


Por fim, ficamos aqui a esperar que Jack White nos brinde novamente com mais um fruto de sua mente criativa e sua alma de blues man, e enquanto houver alguém vivo que ainda se lembre de onde o rock n' roll nasceu, ele dificilmente morrerá, boa semana a todos.

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